terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tenho a certeza de que um dia foste tudo para mim. O meu amor grande, o meu mais que tudo, o que nunca me deixaria cair, aquele, o tal! Os meus amigos diziam que era perfeito demais, a maneira como se dedicava poemas, músicas, como se roubava flores dos canteiros só porque sim.
A princípio foram as palavras, enviadas numa caixa. Sempre as palavras. No fundo eu sou uma fácil. Basta ele ter um olhar perdido e profundo, que se afunde nos meus olhos, mas sobretudo que escreva bem. Se souber manusear bem as palavras estou tramada!

Depois foi a delicadeza, a maturidade daqueles 19 anos. Meu Deus, éramos tão novos! A atenção, o olhar deslumbrado, as pequenas coisas que são tudo, os nadas aos quais sabíamos dar valor como ninguém. E passámos por tanta coisa, apenas para nos fortalecer. Contigo eu aprendi a sermos um só, aprendi a saber o que quer dizer de facto não estar sózinho, mesmo quando estamo a milhares de quilómetros de distância. Não tenho de que me queixar daqueles anos. Tu foste o melhor companheiro que podia desejar. E fizeste-me tão feliz quanto eu a ti.

Mas há muito, muito tempo que eu olho e olho à procura de algo em ti que me deixe entrever um vislumbre daquele homem que já foste para mim. Tanto tempo depois e ainda não acredito que já não estás aí, que essa pessoa como que morreu, ou cresceu apenas. Custa demais aceitar que alguém possa mudar assim, que por mais que se viva nunca conhecemos realmente ninguém. E tu, que eras meu amigo também, agora nem a amizade podemos conservar. Não tens pena?! Não te dói? Porque eu não consigo ser amiga de quem não gosto, com quem não tenho nada em comum, nem pontos de vista, nem personalidade. E a verdade é que as minhas opiniões, a minha essência, continuam a ser as mesmas. Eu não mudei.

E pouco há a fazer, mesmo quando pedes ajuda, mesmo quando talvez a tua ajuda já só esteja em medicamentos que te colem inteiro de novo., pedaço a pedaço. Gostava de poder ajudar, não penses que me é indiferente ver-te afundar, ver-te definhar, ver-te desaparecer aos poucos. Mas não podemos ajudar quem não está disposto a mexer um dedo para começar. Quem não tem coragem nem bom senso, quem só tem medo e mais nada além dele. E preconceitos. Tantos!

Tens a chave da tua própria prisão e nem te dás conta que hás-de ser um infeliz se continuares assim. Não te dás conta ou não consegues contrariar o facto de que, se te continuares a deixar levar pelo vento, a seu bel-prazer, e por medos que te impedem de viver, hás-de chegar ao fim da vida e tudo aquilo que me disseste ter medo vai ser verdade. E vais-te arrepender, meu bem.
A vida é curta, demasiado curta e não podemos ensaiar e repetir. E dói-me ver-te assim, mas neste barco eu já não consigo estar. Se já não aprendeste até agora...não há mais nada a fazer e eu sei quando perdi a guerra.

2 comentários:

  1. Às vezes a decisão mais difícil é retirar-se de cena no momento certo. Quando não dá, não dá e não vale a pena insistir. Espero que consigas seguir o teu caminho! :)

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  2. Ana, tens muita razão! O mais difícil por vezes é mesmo perceber o que é melhor para nós e levar essa decisão até ao fim.

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