sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Outono








Começa hoje. A estação das folhas multicolores, das castanhas assadas, dos primeiros casacos de malha sobre a pele, das tardes de sábado passadas a beber chá ou chocolate quentes. Scones quentinhos com manteiga, pastéis de Belém com cariocas de limão. Mantas no sofá e um filme de domingo à tarde. As primeiras chuvas e o périplo pelas lojas para encontrar mais umas botas que goste. Um novo casaco.

Nunca nenhum Outono ( sim, o nome das estações do ano para mim vai ser sempre escrito em maiúscula, não me venham falar do acordo ortográfico) me soube melhor do que aquele que passei no Luxemburgo, em que visitei Saarbrucken no pico do Outono, Metz, Trier. As cores lá são mais intensas, cheira mais a terra húmida e o espectáculo das árvores lá nada tem que ver com aqui. Nunca nenhum Outono me soube tão bem como aquele dia em que corremos no parque em Metz, o chão coberto de folhas, nós a tirar fotos com as estátuas, encasacados, felizes. Ou a tarde passada em Saarbrucken, o esplendor daquele parque imenso, as cores que nos entravam alma adentro, o autocarro em que viajámos à borla só porque sabíamos falar francês numa terra em que todos falam alemão e o condutor pode conversar um pouco enquanto nos levava. O apple struddel com cappucino que nos aqueceu o corpo faminto.

Depois disso o Outono em Lisboa, na casa em Alvalade, as tardes no sofá com guloseimas, o jardim do Campo Grande a mudar e nós sentados nos bancos a ler o jornal ao domingo. Os domingos na esplanada do CCB a aproveitar um sol mais débil. O cheesecake do starbucks. O teu casaco preto, comprar-te cachecóis só para to pedir emprestado quando eu deixava o meu em casa. O bafo de fim do dia quando o frio se cola à respiração e se trocam beijos de nariz enregelado. Os Outonos são épocas felizes, só o de 2010 não foi. E, ainda que este ano me custe despedir do verão que me soube tão a pouco, este equinócio que hoje começa e que dá origem a mais um recomeço há-de ser feliz de novo. Com as memórias passadas guardadas no sítio onde as memórias pertencem. Eu nunca vou deixar de me sentir "abençoada" pela história que foi. Não é o passado que lamento. Agora, sobretudo quero poder olhar em frente e acreditar, conseguir viver com o mesmo entusiasmo de quando a vida era mais fácil, ou parecia mais simples. Porque no fim de contas, as árvores, os doces, as cores, continuam lá. E eu só preciso de querer ser feliz.

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