sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Polvo

Bem apropriado este título do Sol, não?!

No meio deste escândalo todo vem o Governo e os juízes que acobertam a administração falar em segredo de justiça. "Ah e tal, a justiça está corrompida, que grande desgraça Meu Deus", "Ah e tal a justiça em Portugal está seriamente comprometida", "Ah e tal temos delatores e traidores e hereges no seio do nosso querido sistema de justiça". Eu só tenho a dizer que agradeço aos "traidores", porque se não fossem por eles nada disto viria a público. E o que se passa com a Comunicação social é muito mais relevante do que o segredo de justiça.

Um segredo que é violado em nome de algo maior, para mim é sempre bem-vindo. De outro modo nada disto nunca viria à tona e continuamos todos a ser marionetas das notícias com que nos querem alimentar. Que outro modo de provar a censura? Se isto fosse nos Estados Unidos seria como nos filmes, em que alguém quebra um monte de regras para poder revelar algo importante mas que, por ser maior, acaba por compensar. Aqui, temos toda uma classe política a aglomerar-se qual exército romano em posição de tartaruga e a tentar atirar-nos areia para os olhos com a desgraça em que caiu a justiça nacional. Eu estou-me bem a lixar para esses clamores. Justiça era agora esta malta toda vir a ter as devidas penalizações. O Governo pela interferência, os juízes pela ocultação de prova.

Mas Portugal sempre foi corrupto, verdade? Como escreveu a poeta brasileira Elisa Lucinda, sobre o seu Brasil, "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal."

Fica o poema: Só de Sacanagem:

“Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.

Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
- Não roubarás!
- Devolva o lápis do coleguinha!
- Esse apontador não é seu, minha filha!

Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.

Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!

Dirão: - Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.
E eu vou dizer: - Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão: - É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal.
E eu direi: - Não admito! Minha esperança é imortal!
E eu repito, ouviram? IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.”




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