quarta-feira, 7 de março de 2012

O Rio continua lindo...
















A diferença anunciou-se ainda em voo, quando olhei para o chão que se avistava e vi lagoas intercaladas com morros e floresta, por kms a fio. Depois, quando aterrámos, ainda dentro do avião quase conseguia sentir o cheiro a calor e a vegetação. Aquele bafo quente que nos atinge assim que saímos porta fora inunda-nos de calor e cheiro a humidade e a terra. É realmente diferente de tudo o que é europeu, e isso é bom demais, essa sensação de novidade. A última vez que tive este impacto foi quando fui ao Egipto, já vai para uns bons anos.

Quanto à cidade em si, é maravilhosa como conta a música e assombra-nos de entusiasmo e de pavor também. É, definitivamente, uma cidade de contrastes gigantes. De um lado aquele mar, as praias plantadas com palmeiras e o sol tropical, o açaí e as frutas deliciosas que não cansei de provar, a água de coco gelada como a única coisa capaz de matar a sede naqueles 37 graus que apanhei quase diariamente. A beleza no topo do Pão da açúcar que me deixou efectivamente sem palavras, num estado contemplativo puro, e o assombro do Cristo, ofegante a cada lance de escadas desbravado. O pôr do sol em Ipanema por detrás da Pedra da Gávea, as bicicletas da lagoa e o ar europeu do Leblon.

E depois o lado mau: a insegurança que não se sente, mas que pode estar presente em qualquer parte, a limitação de liberdade que isso traz, o cuidado redobrado. Os engarrafamentos e o trânsito caótico, as distâncias e os tempos de percurso, a falta de educação das pessoas e as praias imundas, o custo de vida obsceno ( o Rio é a sexta cidade mais cara do mundo). Senti-me verdadeiramente pobre, nem da classe média eu seria ali, incapaz de comprar o que fosse naqueles shoppings ( vestidos e biquínis lindos sim, mas proibitivos - trouxe um biquíni por junto e um vestido encontrado no centro da cidade). Depois nota-se tanta segregação: os bem vestidos, os mais cuidados só vês em certos bairros da cidade, raramente apanham autocarros. A praia é talvez o único sítio onde se misturam. Ainda há tanto servilismo também (ainda têm ascensoristas - sim, só para te carregarem no botão do elevador e nos restaurantes servem-te directamente no prato). Além disso, há zonas que parecem de guerra, com portões altos a toda a volta e arame farpado electrificado em redor. Nenhum edifício é aberto, vive-se em condomínios fechados com vigias nas passarelas e nas entradas de cada prédio. Achei que a cidade pode ser muito hostil, opressiva até e que os cariocas não são os brasileiros mais acessíveis ou simpáticos do Brasil. Conservam aliás a imagem do português que guarda dinheiro em baixo do colchão e foi com espanto que tive uma senhora a afirmar com ganância que eu deveria ter um valente maço de notas em casa. A maneira como o afirmou foi mesquinha e não se fiou quando lhe assegurei que o Portugal de hoje está muito diferente de dias de emigrantes passados em que isso podia acontecer.

Tenho tanta foto que ainda não consegui organizar nem metade, e voltei tão cansada que, no dia seguinte ao meu regresso deixei a sopa no bico do gás enquanto tomava um banho demorado (escusado será dizer que esturrou) e pior, no supermercado já estava na caixa quando me lembrei de ir buscar dois produtos, os quais, no regresso invés de os colocar no tapete das compras, levei-os directo para o saco, mesmo em frente à operadora de caixa.Lá me desculpei com o voo de 10 horas, mas não sei se aquilo colou!

Ficam por agora estas fotos.

5 comentários:

  1. Opá...dizias à Sra. do super que vinhas de um país um bocado violento e que tinhas apanhado tiques..já tavas no gamanço pá!

    Beijoka e quero ver essas fotos todas e com descrição!!!

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  2. que saudades que me trouxeste ;)... temos de beber um café rapidamente para me contares o meu brasil ;)

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  3. Maravilha! mal posso esperar por ouvir novidades! :)
    (saudades te ler..)
    Beijinho*

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  4. há ascensoristas, como há pessoas que ficam no metro a ajudar a comprar bilhetes em maquininhas, porque as pessoas precisam de trabalhar...

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    1. Não duvido que haja necessidade de emprego, agora também será preciso questionarmos-nos sobre a necessidade desse emprego.

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