sexta-feira, 17 de junho de 2011


Eu costumava acreditar num amor para toda a vida. Acalentava a ideia de que podia encontrar alguém de quem gostasse tanto e com quem me desse tão bem que passaria a vida inteira do seu lado e chegaríamos velhinhos lado a lado, trocando histórias e recordações do que vivemos. Claro que é mais fácil acreditar nesta ideia quando a vida nos faz crer que pode ser assim. Talvez eu fosse ingénua ou talvez tivesse sido uma menina até à pouco tempo atrás, uma menina que acreditava em contos de fada e em "viveram felizes para sempre". A verdade é que nunca tive nenhum coração partido à séria, e nem sequer acreditava num grande amor, não vivia com a ideia de viver nenhum, de casar ou de um companheiro para a vida. O sonho do vestido branco ou do príncipe a cavalo nunca os tive.

Mas depois aconteceu-me um grande amor, sem eu pedir e na pessoa mais insuspeita de todas. Dificílimo desde o início e talvez por isso tão forte. Intenso, daquele que te faz mal mas sem o qual não podes viver. Foi uma história que se prolongou por 5 anos, anos em que fazia todo o sentido o vivemos felizes para sempre porque parecia impossível algum dia aquela pessoa deixar de ali estar. Costumava dizer-lhe que era impossível nós alguma vez terminar-mos. Ingénua não é? Pois, na altura era assim, para os dois lados, o que reforçava ainda mais essa ideia.

Mas tudo acaba, tudo muda, mesmo o que parecia impossível, e não é pelos anos passarem e o teu sentimento se manter ali que significa que será sempre assim. Porque tudo o que é da esfera do amor se deve retribuir para funcionar, é trabalhoso porque é necessário manter os rituais que criamos e o nível de exigência elevada. Se todas as noites antes de dormir se dá um beijo - exemplo de um gesto, a meu ver, básico - e isso começa a deixar de acontecer ( tipo, um deixa de o fazer e o outro não reclama dessa mudança) ambos sabem que algo está mal mas deixam andar e o princípio do fim começa por aí. Além de que as pessoas mudam, não ficam as mesmas sempre e vai chegar a um ponto em que dão conta de maneiras de ser que antes não existiam ou pareciam morar naquela pessoa.

Ora, este último ano a vida decidiu que estava na hora de eu levar um valente tombo e abrir os olhos. Achei a dada altura que seria poupada ao desgosto de um coração partido, mas não, não me safei a essa sorte. Por muito que se oiça falar em desgosto de amor e corações partidos, só sabemos realmente o que é, a que sabe e o que nos faz, quando vivemos um na pele. E não é bonito, realmente não é. Aquela treta que nos muda, nos torna pessoas mais reservadas, mais frias, incapazes de voltar a viver um amor de forma tão aberta, não é treta, é realidade. É como o perder da inocência derradeira, um processo que começa na adolescência e que talvez culmine na idade adulta, aquando de um desgosto a sério. O que mais detesto foi a maneira como me mudou, a pessoa mais fria, mais escura que me tornei, a maneira como sorrio menos, mesmo no dia a dia, na ida ao supermercado, antes era muito mais cordial, mais simpática. Agora não aguento fretes, não sorrio por conveniência A forma como há muitas poucas coisas que me deixem animada ou entusiasmada. Posso ter um plano de viagem em marcha, um pôr do sol fantástico, um concerto agendado...tudo é sentido numa escala menor. Como se antes sentisse tudo, ao mesmo tempo com grande intensidade e agora dar por mim a não sentir muito mais que uma dormência. Não sei se isto irá passar com o tempo, porque já passou tempo e a dor só amainou um bocadinho, instalou-se mais o conformismo de não lutar contra o que não posso vencer.

No outro dia, a precisar de espairecer, preparei um belo lanche e atirei-me de cabeça ao último episódio da Grey´s Anatomy. E aquelas frases finais encaixam como uma luva, porque é exactamente isto:
"There is a reason I said I´d be happier alone. It wasn´t cause I though I´d be happy alone. It was because I though that if I loved someone and then it fell apart, I might not make it. It´s easier to be alone, because what if you learn that you need love, and then you don´t have it? What if you like it? And lean on it? What if you shape your life around it and then...it falls apart...can you even survive that kind of pain? Losing love is like organ damage, it´s like dying. The only difference is death ends, this...it can go on forever."

Bela maneira de me animar, hein? Pois, mas ainda que exagerado, é uma metáfora bem aproximada. Porém a vida continua e a vida encontra uma maneira. E, fique eu uma pessoa mudada, diferente, ainda acredito que é possível ser feliz. E que talvez não seja preciso um grande amor, pelo menos não um que te dá cabo das entranhas, para seres feliz. Deve haver um amor calmo, sorridente e vibrante à espera no caminho. Mas sem pressas. Porque eu sempre gostei de ser eu sózinha, e mais que tudo agora estou a precisar de me encontrar, de fazer as coisas por mim, de descobrir o que gosto, o que quero. Porque tenho noção que, depois de 5 anos talvez estivesse a ficar sem identidade própria e esta seja a wake up call. Ao fim de um tempo tens tendência a assimilar-te no outro, de só contar fazer planos conjuntos, que incluam sempre. Lá está, formatas a tua vida à volta daquela pessoa ! Está na hora de redescobrir os meus planos, aspirações. A grande verdade é que saí disto e vou sair ainda mais, uma pessoa muito mais forte. And what does not kill you...you know...Toda a situação tem um reverso da medalha. O meu é que posso começar de novo com mais conhecimento de vida. Afinal, à segunda tentativa tem que sair melhor.

3 comentários:

  1. Sem saber muito bem o que dizer tinha de comentar... Admiro a tua coragem e o teu foco em lutares contra esse amor que te magoou tanto, mas que ainda está bem vivo. Não sei... também já tive desilusões, e acho que perdi muitas expectativas em relação a muita coisa, mas ainda gosto de guardar aquela faísca de esperança de que tudo ficará bem um dia.
    Força.

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  2. Foi estranho ler este post e sentir que alguém contava a minha história. Reconheço aquele desgosto e a maneira como ele me tornou uma pessoa diferente, menos divertida, menos disponível e, essencialmente, menos feliz. Espero um dia ter paz de espírito para recuperar o que perdi.

    (Posso copiar uma parte no meu blog? Com link para aqui, claro!) :)

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  3. Analog, eu também acredito que tudo vai correr bem...tenho a ideia de que talvez daqui a uns tempos entendo porque é que as coisas tiveram de acontecer assim, quem sabe.

    Ama, corações desfeitos há-os aos montes infelizmente, não é? Podes copiar sim, no worries!*

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