sábado, 7 de agosto de 2010

My mother told me they `ll be times likes these...

Há uns meses atrás ouvia, surpresa, como o namorado de uma das colegas de trabalho, um mês e meio depois dela ter vindo para Paris, a deixou por telefone, sem mais explicações do que que um "estou bem sozinho". O que mais me chocou foi a indiferença. Namoravam há 3 anos, viviam juntos há um, e ela não se apercebeu de onde veio toda aquela súbita necessidade de "estar sozinho". Ela tinha estado bastante doente essa semana e ele nem uma mensagem lhe enviou. Ela diz que ele passou do namorado amoroso e inseguro com relação a perdê-la, para o desprezo total.

Também há uns 2 anos atrás, quando fiz um estágio na Comissão europeia com mais uns 30 colegas, era comum ver casais desintegrarem-se da noite para o dia. Na altura ainda achava que comigo isso não iria acontecer. Não que não achasse que a minha relação podia acabar por motivos vários, mas nunca por uma indiferença súbita, uma mudança de comportamento. Achava que conhecia demasiado bem a pessoa com quem estava para acreditar que pudesse mudar tanto e agir como se fosse outra pessoa. Claro que aceitava a hipótese de acabar por nos chatearmos, por algum de nós vir a conhecer outras pessoas, etc...mas não por esse motivo.

Ontem a S. contava-me como o casamento dela quase acabou numa fase em que o P. mudou completamente. Ela dizia que ele estava diferente nos pequenos gestos, sentia que havia ali alguma coisa de errado na maneira como ele a tratava, mudanças pequenas no início, gigantes depois. Ele afirmava que estava tudo igual, que gostava dela da exacta mesma maneira. Começaram a discutir porque ele a acusava de extrapolar, ela queria perceber porquê tanta mudança e sentia-se enlouquecer de cada vez que ele negava tudo. "Era uma conversa de loucos," dizia-me ela. "Tudo nele estava diferente comigo e no entanto ali estava ele à minha frente a dizer-me que estava tudo como sempre esteve quando era tão claro para mim que não. Era como estar com uma pessoa que eu não reconhecia. Tinha o mesmo rosto mas tudo, desde a maneira de falar, de ser, de me olhar, se tinha alterado comigo."

Ela saiu de casa. Ele teve um caso mais tarde. Breve. Arrependeu-se e foi pedir perdão como um cão perante o dono. Ela decidiu aceitá-lo de volta e estão juntos ainda. Mas o medo dela de cada vez que ele não dá notícias ou a paranóia quando fica desconfiada de alguma coisa são angustiantes. Eu não seria capaz.

O que me choca é estar tanto tempo com uma pessoa, conheçe-la tão bem e, de repente, não mais do que de repente, ter um estranho á frente, que nos leva a pessoa que já amamos e que já gostou tanto de nós de volta, com a qual já se partilhou tanto, à qual se deve , no mínimo honestidade, e levar com o desprezo, as palavras rudes, os comportamentos que nos deixam à toa por não reconhecemos quem os faz. O passarem a ser comportamentos tão naturais para eles, acreditarem que sempre foram assim. Não conseguirem reconhecer coisas que, noutras alturas, iriam saber no imediato. Assusta-me acontecer a tanta gente e decepciona-me estar a acontecer-me a mim. É como uma estalada que te diz "cresce, ninguém é imune". Apesar do quão bem acharmos conhecer alguém. Não percebo esta capacidade masculina de mudar da noite para o dia, mudar de personalidade e destratar quando já não importa, quando não interessa. É uma estalada e um murro no estômago em simultâneo. Acho que esta é a parte a partir da qual nunca mais nos entregamos. Muralhas a toda a volta. E sombras, sombras negras.

3 comentários:

  1. Fiquei sem respirar a ler isto. Realmente, com tudo o que se passa à nossa volta, não há como não ter medo. Será que será sempre assim? Espero que não, porque, no fundo temos que estar sempre à espera que nos apareça um desconhecido ao nosso lado e tentar traze-lo de volta à realidade.. ai

    ResponderEliminar
  2. São tantas as histórias como as que falaste aqui... É assustador! Eu também já vivi esses destratar, esse mudar radical, esse desrespeito de quem dizia gostar tanto de mim. Vivi-o duas vezes, seguidas. Pensei que o meu coração não ia mais ser o mesmo, que não ia conseguir voltar a acreditar, a sentir. Felizmente consegui voltar a ter confiança. Quero muito que as coisas corram bem desta vez, é tudo tão diferente... Mas claro, o medo, vai existir sempre em quem já sofreu na pele desgosto de amor.
    Força, levanta a cabeça. Quem nos faz isso não nos merece! Não deixes de acreditar que há boas pessoas. E que é possível amar, que é possível ser feliz!
    Beijo grande

    ResponderEliminar
  3. Tudo muito bem, ou mal, tirando a parte da capacidade masculina... é uma capacidade humana. Já tive disso. Normalmente anda alguém metido ao barulho. Mas não quero trazer mais negritude e assombrações...

    ResponderEliminar