sábado, 21 de agosto de 2010

Montmartre





É, ao lado de St. German de Prés, um dos meus arrondissement preferidos de Paris. Apesar de ser tão turístico e estar sempre cheio de gente, tem um ambiente boémio e típico que me encanta. Adoro os pintores da Place du Tertre, adoro ficar por lá a ver os rostos a comporem-se, os traços de cada um, ver quem consegue captar melhor a expressão dos olhos, a reacção das pessoas quando o desenho está pronto. Os acordionistas, como o de ontem, da minha idade talvez, com um olhar tão triste. Cabelo preto revolto, pele morena, olhos escuros, grandes. Tenho um je ne sait quoi por rapazes com um ar desarranjado q.b. e, se os olhos forem tristes e profundos, é certo que já não vou conseguir deixar de olhar.

Fez-me lembrar do J. Aquele olhar eu conheço-o desde os 16 anos e ficou-me desde essa altura. Fez-me lembrar dele naquele instante e apenas nesse instante. Jantei num dos muitos restaurantes que por lá há e, quando a noite caiu voltei para casa. As rotinas habituais: abrir a janela porque o calor voltou, pôr música a tocar, cair no banho. Abrir o pc, ver os e-mails. E não sei que espécie de telepatia existe ainda, tantos anos passados, mas tinha um e-mail dele, assim do nada. Apenas a dizer que se lembrou de mim e a enviar um beijo, "com carinho". E depois um pedido para o adicionar no facebook. Confesso que já o tinha procurado lá, aquela curiosidade em ver como lhe corre a vida, como lhe mudaram os traços do rosto ao longo do tempo. Porém, no fundo, prefiro não saber, não ver. Guardá-lo na memória tal como ele era há 10 anos atrás, tal como eu achava que ele ia ser. A realidade é sempre mais desinteressante, mas por vezes consegue criar coincidências destas, que não se explicam e nos deixam a sorrir.

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