Quando entrámos na faculdade houve uns meses em que perdemos o contacto. A vida real, de todos os dias, chamava mais alto; eu mudei de casa, perdemos os endereços e ainda não tínhamos e-mail. Depois ela escreveu-me para a minha antiga morada e a carta acabou por me vir parar às mãos e retomámos o contacto, desta vez maioritariamente por email, mas com cartas esporádicas nos aniversários e no Natal.
Amanhã, quase 14 anos depois de termos começado a escrever-nos, vamo-nos encontrar pela primeira vez. Ela diz que vai ser uma espécie de blind date e eu não posso deixar de sentir uma estranheza e um nervosismo por ir finalmente conhecer uma das pessoas que me acompanham desde há mais tempo, sentir que sei dela mas que ao mesmo tempo não a conheço de todo. Mas a sensação maior é a de ternura e uma espécie de orgulho por, numa época em que tudo é efémero e veloz, poder ter esta história de correspondência liceal que chegou aos dias de hoje. E há qualquer coisa de inocente e puro nisso, como se uma parte da criança que éramos tivesse sobrevivido em nós duas até hoje, não deixando perder a vontade e a curiosidade juvenis.
Se não simpatizarmos uma com a outra ao vivo e a cores acho que vai ser uma decepção para as duas. Não sei o seu tom de voz, a sua maneira de ser. Mas se tudo o resto correr mal, podemos sempre contar a história. Afinal, quem é que pode dizer que mantém uma penfriend até hoje e que se conheceram pela primeira vez passados 13 anos? Sim, só isso dá uma bela história !