sexta-feira, 18 de junho de 2010

Não me chegou como um assombro de espanto este e-mail que andou a circular no Luxemburgo. Quando lá morei, faz mais de dois anos, a opinião que os luxemburgueses têm dos portugueses não é a melhor e eu, muito sinceramente, não os culpo. Confesso até a minha vergonha quando tinha que revelar a minha nacionalidade. Sim, não era orgulho, era vergonha mesmo. Os portugueses com quem todos os dias me cruzava na rua falam alto e cospem para o chão. Dizem palavrões e atiram lixo no passeio. São brejeiros e pedantes. Falam sempre em português entre eles - curioso é que quando vêm a Portugal de férias falam sempre num françês pontuado pde palavrões em português - e são relutantes a aprender o luxemburguês, língua que o Grão Ducado tenta a todo o custo manter viva com aulas gratuitas.

O luxemburguês comum nao gosta de falar françês, fala alemão e luxemburguês. O françês é a língua dos emigrantes, a língua que o país adoptou aquando da grande leva de emigração nos anos 60 porque era mais fácil de aprender. O Luxemburguês comum é recatado e comedido, gosta das suas regras e de as fazer cumprir. O Português é todo o oposto. O luxemburguês orgulha-se das suas raízes e vê com desaprovação a invasão de mão-de-obra estrangeira que lhes roubou a identidade, mas que é necessária para fazer progredir e funcionar o Grão-Ducado. A verdade é que sempre achei o Luxemburgo um país sem identidade própria, não tem personalidade porque todas as influências chegam das suas fronteiras e da mistura de pessoas que o habitam. E é triste ver um país transformado numa salada de mistura, sem características próprias nem nada que o faça sobressair por ele mesmo.

É verdade também que não se pode generalizar e conheci muito português que saia fora destas regras mas que mesmo assim era discriminado. Bem sucedidos, educados, correctos, bem inseridos na comunidade. Um punhado de bons portugueses não compensa a fama que uma montanha deles tem vindo a deixar ao longo dos anos. É óbvio que não posso concordar com o teor do e-mail. É discriminatório e prejudicial. Só não me surpreende e, de alguma forma consigo compreender a sua origem. Da mesma maneira que em Portugal se inventam piadas e estereótipos com relacao aos emigrantes brasileiros ou ucranianos, apesar de generalizações deste género serem sempre perigosas. E em época de crise acentua-se mais a discriminação.

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