sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ainda Saramago

“Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia”.

Faz hoje uma semana. A notícia caiu pesada cá dentro. Ele já estava velhote e doente há uns tempos mas há pessoas que julgamos serem imortais. Que não deviam morrer nunca. Vou sentir falta de todos os livros que Saramago nao escreveu, de todas as verdades polémicas que não disse.

Surpreende-me haver cronistas, bloguers e afins a enaltecer a obra mas a condenar o homem por ter comparado Israel aos nazis, por exemplo. Não será verdade? Se os judeus sobreviveram ao holocausto para gerarem a aniquilação de outro povo em seu favor, o melhor era que tivessem sido extreminados. Será isto algo que nunca ninguém pensou antes? Eu já pensei.

Em 1991
o então subsecretário de Estado e da Cultura, António Sousa Lara, vetou a candidatura do “Evangelho segundo Jesus Cristo” ao Prémio Literário Europeu, alegando que o livro era ofensivo para os católicos. Também em 1994, a maioria da Câmara de Mafra considerou o “Memorial do Convento” um romance “prejudicial” para a imagem da vila recusando dar o nome do escritor a uma escola local. Não há nada de prejudicial a Mafra no romance, e quem o leu sabe-o, nem nada a que os católicos não pudessem sobreviver. Bando de hipócritas.

Tenho uma colega que diz que não gosta de Saramago porque era desbocado e porque conseguiu ser desprezado por todos os partidos politícos em Portugal. E como não gosta do Homem alega que não lê o Escritor . Respondi-lhe que se foi posto de parte por todos os partidos, foi por ser incómodo a muita gente. Como já alguém disse, Saramago pensou sempre pela sua própria cabeça. E isso pode ser uma dor de cabeça para quem tenta criar um rebanho a toda a força. O escritor é inquestionável, mas esta sua capaciade de crítica era a qualidade que eu mais admirava na pessoa.

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