segunda-feira, 4 de julho de 2011

"E longamente me fui dando conta de que tudo acontecera mesmo: eu não o sonhara, durante vinte anos. Nisso, quando guardam para sempre um instante que nunca se repetirá, as fotografias não mentem - esse instante existiu mesmo. Porém, a mentira consiste em pensar que esse instante é eterno, que dois amantes felizes e abraçados numa fotografia ficaram para sempre felizes e abraçados. é por isso que não gosto de olhar para fotografias antigas: se alguma coisa elas reflectem, não é a felicidade, mas sim a traição - quando mais não seja, a traição do tempo, a traição daquele mesmo instante em que ali ficámos aprisionados no tempo. Suspensos e felizes, como se a felicidade se pudesse suspender carregando no botão " pausa" no filme da vida."

Miguel Sousa Tavares, No teu Deserto, lido num ápice numa tarde de praia.

1 comentário:

  1. A expressão é mesmo essa "num ápice", também li este livro "de um só fôlego" no ano passado: http://chama-sevida.blogspot.com/2010/04/no-teu-deserto-de-miguel-sousa-tavares.html

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