quarta-feira, 17 de março de 2010

Regime de ditadura militar

Acho que me inscrevi no exército e só agora me dei conta.

Mas mais valia se me tivesse inscrito. Como licenciada fazia a recruta em 5 semanas, passando em seguida a oficial, ganhava mais e provavelmente não me iriam tratar como uma criança e impor regras de uma rigidez absurda.

Somos cerca de 75 pessoas e estamos há duas semanas com formação em sala, 8 horas por dia, com dez minutos de pausa e uma 1 hora de almoço. Os horários são rígidos, tipo, mesmo rígidos. Hoje ouvidos sermão e ameaças de despedimento (estamos todos em período experimental) porque a apresentação da manhã começou ás 9:05 e a da tarde com uns dois minutos de atraso em relação à hora marcada. É natural que as coisas não comecem exactamente ás 9h em ponto quando somos tantos, quando se demora a picar o ponto (com impressão digital, ah pois é, para não haver oportunidade de mais ninguém o picar por nós a não ser que cortemos o dedo e o deixemos emprestado!). E quando só há uma maquineta destas para picar o ponto, enquanto as pessoas tiram os casacos e se vão acomodando até se sentarem nas cadeiras, pode levar uns 5 minutos e não deveria vir daí nenhum grande drama ou mal ao mundo. certo? Wrong! É impensável para eles. Se nos atrasarmos um minuto e entramos ás 9h01, no final do dia temos um minuto de falta injustificada - this is not a joke, I promise - e se o senhor ao almoço demorar mais a servir o prato e não estivermos lá exactamente uma hora depois também há represálias.

Percebo que somos muitos e que tem que se impor alguma disciplina, mas é um grupo de pessoas adultas, bem-formadas que não tem andado a chegar aos 15 ou 20 minutos atrasados, mas em que há dias em que chegam ás 9h05. Odeio que me controlem a este ponto, que não haja nenhuma flexibilidade, que não se apercebam do quanto um trabalhador infeliz ou reprimido é um trabalhador improdutivo.

E soube finalmente porquê tão grande recrutamento agora. Parece que as pessoas que entraram há dois anos saíram quase todas e eles tiveram que renovar o stock. E porque saíram passados dois anos? Porque se sairmos antes disso temos de indemnizar a empresa em muitos euros. Não me admira que daqui a dois anos estejamos todos a sair de lá também. Só espero conseguir estar mentalmente sã nessa altura ou, se for intolerável, que me mandem embora eles para que não tenha que pagar.

Tanto benefício em termos de contrato de trabalho vem sempre com água no bico e, no caso deles, é um trabalho chatérrimo e de alto risco financeiro, com grandes responsabilidades e rigidez militar no trato com as pessoas. Não é definitivamente para mim. A ver o que acontece nos próximos meses.

3 comentários:

  1. Ou seja, para chegares a horas e picar o ponto tens de chegar lá para as 8h30...

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  2. Oh miúda... nem vou comentar.

    Apenas te vou dizer que, neste momento, me apetecia dar-te o braço e caminhar sem destino, como tantas vezes fizemos, pelas ruas de Coimbra, Roma e todos os outros sítios por onde andamos juntas, numa época em que, apesar de tudo, as nossas vidas eram bem menos difíceis do que agora. Depois, tomávamos calmamente um café num sítio acolhedor e conversávamos sem pressas, inventando vidas e fazendo planos.
    No fim, despedíamo-nos com um abraço e um até amanhã.

    ***

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