Tenho este aperto no peito desde o início do mês. Desde exactamente dia 1. Desde o momento em que pisei Lisboa de novo. Quero fechar os olhos e regressar a Paris, ou a qualquer sítio bem longe, ou apenas qualquer sítio diferente daqui. Mas tenho de acordar e convencer-me de uma vez. Tenho de crescer. Sim, é isso, crescemos pela dor não é verdade? E talvez eu fosse ingénua ao achar que nunca me iria magoar assim. Se investimos muito corremos o risco de ter grandes perdas. Eu, mais do que nunca, devia saber disso. Não vai doer menos, não importa fazer de conta ou rezar por um resultado diferente. Vai doer exactamente o que tem de doer, vai magoar, macerar a ferida, em profundidade...e depois vai começar a ganhar uma crosta sensível, até ir cicatrizando, pouco a pouco. O que não posso fazer é recuperar uma esperança perdida, que não tem razão de ser, motivo pelo qual se alimentar. No final, vai tudo dar ao mesmo resultado e já não há mais nada que eu possa fazer. Eu já não vou olhar para trás e arrepender-me pelo que não fiz porque já pedi, já implorei, já lutei. Perdi. Por mais que doa admitir a forma óbvia e vexante como perdi. Agora, tenho de pensar em mim, resguardar-me, proteger-me, porque no final, não haverá ninguém que o faça por mim.
Por antecipação, doí-me já o tempo que sei que vai levar a curar. Tenho medo que seja muito tempo, demasiado tempo. Sei que tudo isto vai mudar a minha forma de ser e não quero ficar amarga ou perder a capacidade de acreditar. Mas no fundo sei que, mais do que destino, a vida somos nós que a fazemos e os sentimentos podemos aprender a controlar. Mesmo que isso nos torne seres humanos mais frios. E mais do que tudo eu quero viver, sem esperas, sem angústias, quero viver com tudo aquilo a que os meus 27 anos têm direito. Não vou ser jovem para sempre. E não espero mais por ninguém. Por ninguém. A minha felicidade, a partir de agora, sou eu que a faço. Não vou ficar em casa a carpir as mágoas. Sobretudo quando as mágoas nos são deixadas por alguém que pôde escolher.
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