terça-feira, 27 de julho de 2010

Começa por um vazio ténue e indecifrável. Por vezes não se dá por nada. A rotina dos dias que passa camufla a falta de palavras, a indiferença que mal se nota ainda. Ela chega a casa e pousa as chaves e não pensa nele. Aquele abraço que quase se institucionalizou como um dos hábitos quotidianos. Á falta de vontade atribiu-se o cansaço, amanhã será melhor. Nem ela nem ele caminham mais sobre o ar e são pessoas diferentes. O tempo muda, mas a falta de amor muda mais. A distância aguça tudo. Deixa a descoberto sob a luz mais crua todas as falhas, toda a infelicidade que pensavam escapar. Da sua perspectiva olham para trás, pesam tudo, o que passou e onde pensavam vir a chegar, onde queriam estar naquele momento. Insatisfação. Crescente. Um cansaço gigantesco. Começam a falar línguas diferentes. Depois vêm as acusações, as recriminações, aquilo que ele raramente diz mas que pensa. Inimigos de cada um dos lados da linha de fogo. Não sobra muito mais. O que está para trás é valioso e guarda-se possessivamente. Cada um com as suas memórias. Aqueles dois são agora personagens de uma estória sem dono. Cada um com os seus problemas, as suas vidas distintas. Até que se torna inescapável. Quando a estrada se divide não dá para ir e ficar em simultâneo. Fica-se com um coração partido e um ponto zero para começar. Para recomeçar quando se puder.


1 comentário: