terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Tropical

Para quem conhece Coimbra este nome não será estranho. O Tropical é um café de esquina,com dois andares, situado na Praça da República de Coimbra, frequentado sobretudo por estudantes. Foi o meu café fétiche durante os meus 4 anos em Coimbra.

Não pelo serviço (que era lento e era frequente o Sr. Madeira "enganar-se" no troco para amealhar mais uns 5 cêntimos por café) nem pelo sabor do café, que estaria na média de todos os outros. Era sim pelas mesas de ferro verde,pela vista sobre a Praça, pelas janelas de canto onde ficava a ler livros no Inverno com a chuva a cair no passeio, pelas conversas e tertúlias, por lá encontrar sempre uma companhia para o café, ainda que não tivesse combinado encontrar-me lá com ninguém. Havia um ar que não se explica, um ambiente que nem todos gostavam mas que a mim me dizia muito e que não voltei a encontrar em mais café nenhum depois.

Foi aqui que tive das discussões mais acesas e que partilhei ideias que, na altura, ainda achava poderem mudar alguma coisa. Na época penso que a maior parte de nós que frequentávamos o Tropical ainda tínhamos a ingenuidade de achar que poderíamos mudar o mundo. Aquela inocência inabalável de uma adolescência prestes a terminar. Como eu tenho saudades dessa sensação e, também, muitas, dessa troca de ideias, desse fervor nas palavras.

Não sei o que é feito da maior parte das pessoas que paravam pelo café. Algumas, tenho a certeza, ainda por lá continuarão, absortas à passagem do tempo. Outras, que vou encontrando aqui e além, agora falam menos, conhecem menos palavras, falam de coisas triviais a maior parte do tempo, falam de não terem tempo. Queixam-se mais e encolhem mais os ombros, como se todos os males da sua vida estivessem para lá do seu controlo ou poder em mudar. Tornaram-se mais adultos, e isso não é um elogio, a maior parte das vezes não traz nada de bom.

Este café Tropical, que é só meu, é no fundo uma tentativa de procurar ter tempo para pensar, para escrever, para debater, nem que seja num monólogo comigo mesma. Perdi-me tanto desde que saí de Coimbra. Deixei de saber quem sou ou o que quero. A vida não foi tão simples como eu julgara. Mas há tanto de mim que ainda é tal como dantes e que eu quero conservar.

Alguém me disse que o Tropical já não tinha cadeiras verdes de ferro...que foram substituídas por aquelas cadeiras horríveis de plástico com o logótipo da Sagres, ou outra marca do género. Eu nunca mais voltei a Coimbra depois que acabei o curso, pelo que não tenho a certeza disso e, creio, prefiro não saber. Porque a imagem mental que irei guardar será sempre a das mesas verdes espalhadas no passeio.

2 comentários:

  1. É verdade que o Tropical já não é como o recordamos, mas também evitei olhar para ele mais do que de soslaio quando reparei nas alterações.
    O teu/nosso Tropical continuará a ser como o descreves, e tão bem, aqui!
    Que saudades também sinto... de tudo!!

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  2. Estava longe de imaginar que este blog que acompanho há relativamente pouco tempo tinha este nome por causa do tão conhecido Tropical na Praça da República em Coimbra! Cada vez gosto mais de vir aqui absorver umas letras, e hoje que decidi ler alguns posts dos primórdios do blog, esta foi uma boa surpresa!

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